I.L. Peretz - O advogado das reformas

 

Itzhok Leibush Peretz iniciou-se nas letras em 1875-1876, com poemas hebraicos. Antes disso escrevera versos poloneses que permaneceram inéditos. Sua verdadeira estreia literária verificou-se em 1888, com Monisch, uma longa balada ídiche, que é o anúncio de uma nova época na nova literatura. Com efeito, em contraposição a Mêndele e Scholem Aleihem, sua presença é a do "eu", e não a do "nós", na criação artística.

Peretz é um "herói intelectual" de feitura romântica assaz característica. Bipartido entre a tradição e a atualização, entre a atração do mundo exterior, ocidental, moderno, e a idealização do mundo interior pietista e popular, arcaico mas puro, entre o anseio de renovação social, de melhoria das condições imediatas de vida e o sonho de uma utopia ética, entre a crença nos valores e o ceticismo quanto a inteireza destes, entre as palpitações do indivíduo e as reivindicações do coletivo, transformou esses chamados contraditórios e conflitantes na fonte de uma arte extraordinariamente viva, sensível e humana.

Peretz, o advogado das reformas, do obscurantismo e o atraso, o grande precursor da impregnação ideológico socialista na literatura ídiche, é também um de seus principais "estetizadores".Não apenas porque cinzelou com sua arte os tesouros da história popular e hassídica, mas porque o fez com deliberação artística, com consciência de seus meios expressivos e os de seu tempo.

Nas suas mãos, as letras iídiches se intelectualizaram duplamente: nas preocupações e nos instrumentos. Peretz trouxe, para o meio em que atuava, as várias tendências literárias do Ocidente. Foi romântico, realista e simbolista. Pode-se dizer o que mais ocidentalizou formalmente a literatura ídiche de sua época. Por outro lado, ninguém a "judaizou" mais do que ele.

Além de contista Peretz foi poeta, dramaturgo e ensaísta, tendo produzido com igual brilho e espírito inovador em todas essas esferas de atividade criadora. Mas é indubitável que o cerne de sua obra está no relato curto, no quadro e no esboço, escritos num ídiche versátil, tonal, rico de símbolos e ironia sutil, o que os tornam clássicos não só de literatura judaica, como da universal.


J. Guinsburg
Extraído de "O Conto Ídiche", Coleção Judaica, nº 8,
Editora Perspectiva